"ÁLBUM AMA": MANU SAGGIORO FAZ UM MERGULHO NO ESSENCIAL

Da Redação - podpopartzoom@gmail.com - @noticias.emcartaz

O segundo álbum autoral da cantora, compositora e instrumentista Manu Saggioro confirma o amadurecimento de uma artista que já nasceu com voz própria. Depois de Clarões (2019), disco de estreia que teve direção artística de Ceumar e foi premiado pela Rádio Cultura Brasil, Manu retorna com Ama. São oito faixas que mergulham no essencial, com canções que nascem do silêncio, da escuta e da poesia que brotam do amor universal. Quem está com ela na gravação deste trabalho são os músicos Rogério Plaza (piano e acordeom), Emílio Santos (violão) e Antonio Loureiro (percussão).

No palco, o show se revela íntimo e encantador, a começar da abertura com uma prosa poética que conjuga o amor em seus avessos e reversos. E é no eco do texto que Manu inicia sua apresentação com “Ouve o silêncio”, única canção do álbum em que a artista divide a composição com Carlos Rodrigues Brandão. Todas as outras faixas são inteiramente autorais. 

“Quis, com este disco, experimentar um lugar de presença onde o essencial da vida pudesse ter mais força, com menos distrações, indo diretamente ao ponto: o coração, no sentido mais metafísico, nosso ponto de ancoragem das virtudes e recursos internos. Musicalmente, acho que o disco conseguiu traduzir esse intento. Trouxemos as belezas e sutilezas sem devaneios”, destaca Manu.

Com seu violão e arranjos sensoriais, Manu convoca o público a lembrar “que os pés tem sonhos /.../ que seiva é sangue; lembrar de respirar /.../, lembrar que amar é o grande bem”, como diz a canção “Conversa de Preto Velho”. Em “Vera Vitória”, ela exalta a força feminina na história de suas avós, histórias tão dela quanto nossas. Além da musicalidade, a compositora brinca e gira com as palavras em pura poesia: “vi vera vitória na passagem da memória”. 

Ama é uma experiência musical e poética que transporta o ouvinte para um mundo possível. Em suas canções, Manu toca em questões urgentes e atemporais: a comunhão com a natureza, a força feminina, a ancestralidade que sustenta a existência. E deixa recados claros sobre a preservação do meio ambiente, o respeito aos animais e a importância vital do silêncio num mundo saturado de ruídos.

“Enquanto a cidade grita e nos ensurdece, a floresta está ali, com seus sons e silêncios, honrando a natureza das coisas. Cada bicho e planta sendo o que nasceu para ser e mantendo o equilíbrio natural. Infelizmente, vemos isso como limitação, condição inferior, falta de criatividade, pois eles não inventam um novo mundo. Enquanto nós, na brincadeira de inventar tantas coisas, estamos esgotando o planeta”, reflete a cantora.

Com Ama, Manu Saggioro não apenas entrega um álbum: oferece uma experiência estética que ecoa muito além do palco.

Faixa a faixa

1. Ouve o silêncio - “Queres a poesia, ouve o silêncio”

Composição criada com o parceiro Carlos Rodrigues Brandão. Fala sobre a escuta depender do silêncio interno, da presença no agora, é uma chamada para escutar o álbum (e a vida) com atenção.

2. Água de cachoeira - “Vida é água, fluida corrente, represada traz sofrer e dor /…/ Desabraça, solta para fluir”

Nessa música, a poesia compara a face árida da terra com a água escorrendo sobre ela (cachoeira) e nossa face (e alma) também árida quando represamos as emoções. Fala sobre a fluidez e a permissão de sentir.

3. Conversa de Preto Velho - “porque pra pensar bem também tem que escuitá”

Traz a sabedoria dos anciões nessa linha de umbanda, mostrando que precisamos nos lembrar que amar é o grande bem.

4. Vera Vitória - “Vi vencer o mal, vencer o frio, vencer lavoura. /…/Vi viver o risco de ser mulher, de ser mulher…Vi Vitória ali em seu jardim, em sua horta…” /…/ “Eu vi Vera ler, escrever a sua história, vi Vera cuidar, vi Vera amar… /,,,/ Vi vera vitória na passagem da memória”

Composição escrita em homenagem às avós da cantora, Vitória e Vera. Nesta canção, Manu honra a coragem de ser mulher, celebrando, hoje, sua própria vida e a força que recebeu delas através da ancestralidade e da memória.

5. Vendaval - “Adormeci no colo do mistério pra despertar num vendaval à beira do mar”

O vento como força da natureza que também chacoalha nossas estruturas internas e nos “desperta” para a vida. No final da música incide um trechinho de antigo ponto de umbanda, homenagem singela a Iansã e Iemanjá, senhoras do vento e do mar. “Eram duas ventarolas que ventam no mar”.

6. Vivendo com Guarani - “Vivendo com Guarani pra aprender a se lembrar” /…/ “Porque a terra é mãe sagrada, não é almoxarifado”

A aproximação do homem branco com os indígenas nesses últimos anos querendo aprender a viver de forma mais simples e integrada à terra, buscando sonhar um mundo mais justo onde todos os reinos são beneficiados, não apenas o homem “civilizado”. Uma homenagem a Krenak, que comparou nosso modo de ver a terra como almoxarifado, e Davi Kopenawa, que nos alerta sobre a Queda do Céu.

7. Mestres Animais - “Os mestres animais estão por aí, aos milhares nas fazendas confinados, escravizados pelo leite, pelo queijo, pelo sangue derramado no seu prato”

Uma reflexão sobre a relação do homem com os animais e o meio ambiente. A mensagem central fala sobre como os animais nos curam, nos ensinam e aguardam nosso despertar para que possamos os libertar da escravidão, do sofrimento e da morte para nos servir.

8. Amor Que Eu Sou - “Todos os sons da natureza /…/ me levam sempre para dentro”

A essência divina amorosa que reside dentro de cada ser humano. A música fala sobre a percepção do amor interior, o amor que todos somos e como a natureza nos ajuda a lembrar quem somos.

Mini biografia

Natural de Jaú (SP), Manu encontrou na música sua forma de respirar o mundo desde os 12 anos, quando decidiu aprender violão e guitarra. De lá para cá, construiu uma trajetória que atravessa gêneros, palcos e histórias: formou sua primeira banda em 2002 e, por 15 anos, viveu intensamente a cena musical, transitando literalmente do rock à MPB, com inúmeras experiências pela estrada - do Brasil profundo às viagens internacionais.

Graduada em Música (USC, hoje Unisagrado) e também com estudos de Letras, Biopsicologia e Fotografia, Manu reúne diferentes linguagens ao redor de sua expressão artística, mas foi na música que fincou mesmo suas raízes.

É guitarrista da Inlakesh, banda de rock’n roll clássico formada só por mulheres, e se divide ainda entre projetos de MPB e música regional. Como cantora e compositora, estreou em 2018 com o disco “Clarões”, dirigido por Ceumar e premiado pela Rádio Cultura Brasil. Em 2025, lança “Ama”, álbum em que assina todas as faixas e se revela por inteiro como compositora.

“Ama” nas diversas plataformas digitais.

Acesse: https://tratore.ffm.to/manuama

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